Dedos em riste estão na moda. Episódios recentes da vida empresarial brasileira, como o caso das Lojas Americanas, abrem debates em várias frentes. Uma delas diz respeito ao papel dos conselheiros independentes. Ouvi outro dia, de um deles, uma frase inspiradora e definitiva: “Se eu depender economicamente dessa atividade, não serei um bom conselheiro independente”. Ou seja, o medo de perder a remuneração não pode ser maior do que o compromisso com a missão, que é, em suma, proteger a empresa, dela mesma e das armadilhas e desafios do mercado.
Importante, nesse contexto, não confundir sinceridade com grosseria. O conselheiro independente mal humorado, que só critica e acha defeitos, é um personagem que perde, cada vez mais, espaço e legitimidade. Uma postura construtiva é sempre mais eficaz, mesmo que muitas vezes isso signifique dizer o que ninguém quer ouvir.
Também cabe aqui uma ressalva. O conselheiro independente nem sempre tem acesso a tudo o que acontece na empresa. Seu papel não é o de um gestor, que tem responsabilidades absolutamente diferentes. Na condição de advogado, tenho observado o aperfeiçoamento das ferramentas de governança no Brasil e no mundo, que passa também por novos modelos de conselho de administração, em geral. Antes reservados a pessoas com 50 anos ou mais, agora se abrem para composições colaborativas, com perfis diferentes e complementares.
O conceito de pluralidade acabou contaminado por um ranço ideológico, mas nem por isso deixa de ser fundamental. Pode-se usar o exemplo de um time de futebol. A mescla entre experiência e juventude, se aplicada da maneira correta, costuma dar bons resultados. Vemos hoje a aceleração exponencial dos desafios de uma economia dinâmica, que exige flexibilidade e capacidade permanente de aprendizado das empresas e dos empreendedores. Que o tombo das Lojas Americanas nos ensine a evitar que outros aconteçam. Jack Welch disse tudo: “Quando a mudança externa é mais rápida do que a interna, o fim está próximo”.